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22/06/2013

O Espiritismo: Cristão e Experimental


     Existem duas tendências do Espiritismo: o Espiritismo experimental e o Espiritismo cristão. O primeiro, mais orientado sobre o fenómeno espírita, procura reunir as provas da sobrevivência do ser. O segundo, apoiando-se sobre o primeiro, procura difundir mais o lado filosófico e moral dos ensinamentos dos Espíritos.

     Observemos, escreveu Léon Denis, “que há uma tendência, da parte de certos agrupamentos, de dar ao Espiritismo um caráter sobretudo experimental, de se aproximar exclusivamente ao estudo dos fenómenos, de negligenciar aquilo que tem um caráter filosófico; tendência de rejeitar tudo que pode recordar, um pouco que seja, a doutrina do passado, para se acomodar sobre o terreno científico. Nesse meio, visa-se deixar de lado a crença e a afirmação de Deus como supérfluas, pelo menos como sendo de uma demonstração impossível. Pensa-se assim atrair os homens de ciência, os positivistas, os livres-pensadores, todos aqueles que experimentam uma certa aversão pelo sentimento religioso, por tudo aquilo que tem uma aparência mística ou doutrinal”.
     Por outro lado, quer-se fazer do Espiritismo um ensinamento filosófico e moral, baseado sobre os factos. Um ensinamento suscetível de substituir as velhas doutrinas, os sistemas antiquados e de dar satisfação às numerosas almas que procuram, antes de tudo, consolações para as suas dores, uma filosofia simples, popular, e que as repouse das tristezas da vida.
     Tanto de um lado como do outro, há multidões a satisfazer; muito mais de um lado do que do outro, porque a multidão daqueles que lutam e sofrem ultrapassa em grande número os homens de estudo.
     Para sustentar essas duas teses, vemos de uma e de outra parte homens sinceros e convictos, às qualidades dos quais nos preza render homenagem. Porque precisaríamos de optar? Em que sentido convém orientar o Espiritismo para assegurar a sua evolução? O resultado das nossas pesquisas e das nossas observações leva-nos a reconhecer que a grandeza do Espiritismo, a influência que exerce sobre as massas provém sobretudo da sua doutrina; os factos não são senão os fundamentos sobre os quais o edifício se apoia. Correto! As fundações são essenciais em todo o edifício, mas não é nas fundações, quer dizer nas construções subterrâneas, que o pensamento e a consciência podem encontrar um abrigo.
     Aos nossos olhos, a missão real do Espiritismo não é só esclarecer as inteligências por um conhecimento mais preciso e mais completo das leis físicas do mundo; ele consiste sobretudo em desenvolver a vida moral entre os homens, a vida moral que o materialismo e o sensualismo têm minorado bastante. Erguer os carateres e fortificar as consciências, tal é tarefa capital do Espiritismo. Sob esse ponto de vista, pode ser um remédio eficaz aos males que estão a perturbar a sociedade contemporânea, um remédio a esse crescimento sem precedente do egoísmo e das paixões que nos empurram aos abismos.
     Cremos dever exprimir aqui a nossa inteira convicção: Não é fazendo do Espiritismo só, uma ciência positiva, experimental; não é eliminando aquilo que há de elevado nele, aquilo que arrasta os pensamentos de sob horizontes estreitos, isto é a ideia de Deus, o uso da prece, que facilitará a sua tarefa; pelo contrário, isso só o tornaria estéril, sem ação sobre o progresso das massas.
     Há ainda outra coisa. Mesmo mantendo-nos sobre o terreno do estudo experimental, há uma consideração capital onde devemos inspirar-nos. É a natureza das relações que existem entre os homens e o mundo dos Espíritos; é o estudo das condições a preencher para tirar dessas relações os melhores efeitos.
     Desde que se abordem esses fenómenos, somos surpreendidos pela composição do mundo invisível que nos rodeia, pelo caráter dessa multidão de espíritos que nos envolvem e procuram sem cessar imiscuir-se em relações com os homens. Em torno do nosso planeta atrasado flutua uma vida possante, invisível, onde dominam os espíritos levianos e zombadores, aos quais se misturam espíritos perversos e malfeitores. Há também os apaixonados, os viciados, os criminosos. Eles deixam a terra com a alma cheia de ódio, o pensamento alterado pela vingança; esperam na sombra o momento propício para satisfazerem os seus rancores, o seu furor, às custas dos experimentadores imprudentes e imprevidentes que, sem precaução, sem reserva, abrem, bem abertas, as vias que fazem a comunicação de nosso mundo com aquele dos Espíritos.
     Felizmente, ao lado do mal está o remédio. Para nos livrar das influências maléficas, existe um recurso supremo. Possuímos um meio possante para afastar os espíritos do abismo e fazer do Espiritismo um elemento de regeneração, um apoio, um reconforto. Esse recurso, essa salvaguarda, é a prece, é o pensamento dirigido a Deus! O pensamento em Deus é como uma luz que dissipa as sombras e afasta os espíritos das trevas; é uma arma que afasta os espíritos malfeitores e nos preserva das suas emboscadas. A prece, enquanto ardente, improvisada, e não uma recitação monótona. Tem um poder dinâmico e magnético consideráveis; atrai os espíritos elevados e assegura-nos a sua proteção. Graças a esses, podemos então comunicar com aqueles que amamos na terra, aqueles que foram carne de nossa carne, sangue de nosso sangue e que, do seio dos espaços, estendem os seus braços para nós.
     Para entrar em relação com as potências superiores, com os espíritos esclarecidos, são precisos a vontade e a fé, o desinteresse absoluto e a elevação de pensamentos. Fora dessas condições, o experimentador seria um joguete dos espíritos levianos. "O que se assemelha se reúne", diz o provérbio. Com efeito, a lei da afinidade rege o mundo das almas como o dos corpos.
     Há então necessidade, tanto do ponto de vista teórico como do ponto de vista prático, do progresso do Espiritismo. De desenvolver o senso moral, de se ligar às crenças fortes, aos princípios superiores; necessidade de não abusar das evocações, de não entrar em comunicação com os Espíritos senão dentro das condições de recolhimento e de paz moral.
     O Espiritismo foi dado ao homem como um meio de se esclarecer, de se melhorar, de adquirir as qualidades indispensáveis à sua evolução. Se destruísse nas almas, ou somente se negligenciasse, a ideia de Deus e as aspirações elevadas, o Espiritismo poderia tornar-se uma coisa perigosa. É por isso que não hesitamos em dizer que se nos entregarmos às práticas espíritas sem depurar os seus pensamentos, sem os fortificar pela fé e pela prece, seria fazer uma abertura funesta, onde a responsabilidade poderia recair pesadamente sobre os outros.

Conclusão

     O Espiritismo nascido da observação dos factos e da aplicação do método experimental tem tido consequências religiosas demonstrando a sobrevivência do Espírito e estudando a sua situação na vida futura. Que facto é preciso considerar para o futuro do Espiritismo? Responderemos com Louis Serré e Roland Tavernier que "tudo estando ligado à doutrina espiritualista do Espiritismo, somos muito tentados à parte experimental que constitui uma demonstração, e aos factos sobre os quais se apoia a doutrina. Seguimos totalmente Allan Kardec porque afirma que o Espiritismo será científico e se ele não acrescenta que será espiritualista, é que ele o é na sua essência e isso vem por si; "O Evangelho segundo o Espiritismo" e "O Livro dos Espíritos" aí estão para o atestar.
  

Note:

- O lado mais elevado do Espiritismo é a sua força moral; por ela, é inatacável.

- O propósito essencial do Espiritismo é a melhoria dos homens.

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